Salgueiro de 1993 - Peguei um Ita no Norte

Por Fernando Andrade



Comissão de Frente 
Foto: O Globo

No primeiro artigo sobre os carnavais inesquecíveis vamos revisitar o carnaval campeão do Salgueiro de 1993  “Peguei um Ita no Norte”.

A famosa canção de Dorival Caymmi deu nome a essa epopeia,  por si só ja é prenuncio de sucesso.  O enredo conta a história dos desafios e esperanças que o homem do norte e nordeste brasileiro enfrenta ao aportar nas grandes cidades do efervescente mercado do sudeste e, especificamente no Rio de Janeiro, explode de emoção ao descobrir a passarela do samba e contemplar o desfile magistral do Salgueiro.

Após o bicampeonato de 1974/1975, a escola já amargava 17 anos sem títulos e quase sempre batendo na trave. Era ano de 1993, o navio Ita do Salgueiro passava por águas revoltas e agitadas. A escola estava mergulhada em problemas políticos e financeiros mas a garra do componentes, marca registrada da escola, não deixava a peteca cair. Além de tudo, a escola completava 40 anos e aquele ano não poderia passar inglório.

O empolgante samba, composto por Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade, Bala, Guaracy e Quinho, um dos mais tocados no período pré carnaval já anunciava que se tratava de um carnaval vencedor. Sua letra simples, melódica e de refrão poderoso já pulsava na veia de todo salgueirense e a expectativa era grande para vê-lo na avenida.

 



Alegoria do Ita - Foto: O Globo



Com o carnavalesco Mário Borrielo, em seu segundo ano de trabalho a frente da agremiação, a escola empolgou já antes de começar o desfile de fato, parecia que a galera nas arquibancadas ja esperava ansiosamente o momento de cantar o samba que se tornou praticamente um hino da escola.


E foi na madrugada de terça-feira, a furiosa do saudoso mestre Louro, invadiu a sapucaí. A comissão de frente, simbolizando os oficiais do Ita, abriu passagem para um desfile brilhante, onde fiéis da festa do Círio de Nazaré, vendedores de peixe do Mercado Ver o Peso, o bumba-meu-boi das ruas azulejadas de São Luís, jangadeiros cearenses, romeiros, retirantes e Padre Cícero, o frevo de Pernambuco,  baianas e os quindins de Iaiá e  o Mercado Modelo de Salvador desfilavam sua magia pela avenida. Tudo retratado de forma brilhante mas simples e criativa.


Alegoria Nordestina - Foto: O Globo



O povo nas arquibancadas sambava e cantava em umas das maiores manifestações que o carnaval do Rio de Janeiro ja presenciou. O salgueiro parecia flutuar com a força da energia gerada pela galera. Um desfile perfeito para fazer arrepiar quem assiste aos vídeos hoje e fazer chorar quem lá esteve presente.


E na apuração se confirmou o que a sapucaí ja previa com os gritos de "É campeão !". Perdendo somente 0.5 ponto em harmonia o Salgueiro sagrou-se campeão do carnaval de 1993. E ainda arrebatou quatro Estandartes de Ouro como a melhor escola, melhor enredo, melhor bateria e melhor Ala das crianças.


E até hoje, 17 anos depois, os reflexos do carnaval de 1993 do salgueiro ainda fazem ecoar o samba campeão no maracanã, em festas infantis, blocos de carnaval e em qualquer lugar em que a alegria seja premissa.

Letra do Samba:


Lá vou eu...
Me levo pelo mar da sedução
Sou mais um aventureiro
Rumo ao Rio de Janeiro
Adeus, Belém do Pará
Um dia volto, meu pai
Não chores pois vou sorrir
Felicidade o velho Ita vai partir


Oi no balanço das ondas... Eu vou
No mar eu jogo a saudade... amor                (bis)
O tempo traz esperança e ansiedade
Vou navegando em busca da felicidade


Em cada porto que passo
Eu vejo e retrato, em fantasias
Cultura, folclore e hábitos
Com isso refaço minha alegria
Chego ao Rio de Janeiro
Terra do samba, da mulata e futebol
Vou vivendio o dia-a-dia
Embalado na magia
Do seu carnaval


Explode coração
Na maior felicidade                                   (bis)
É lindo o meu Salgueiro
Contagiando, sacudindo essa cidade